segunda-feira, 26 de setembro de 2011

| orgasmos da alma |

Em estado raro e primaveril.

Raro, não pela escassez... raro pela beleza e preciosidade. 
Primaveril, não pelas flores, mas pelo começo, pelo germinar da semente plantada.

Preenchida, seja shakti ou pranas. Sejam energias primordiais, bênçãos, seja amor, paixão ou paz. Seja deus, a loba, seja plenitude, seja consequência ou merecimento.

O que me preenche não precisa de nome nem sentido. Simplesmente é...
... e é de forma tão profunda que posso sentir essa essência em mim como se fosse um ar denso e verdadeiro me envolvendo pulmões, coração, vísceras e membros.

O momento é de um silêncio meditativo. Como se tudo em mim calasse em uma única resposta.

O momento é de uma explosão interna. Como se tudo fosse um orgasmo...
... o meu orgasmo na alma.

Essa é a minha resposta pras dúvidas. Não as minhas porque, curiosamente, elas desapareceram a partir do momento que eu decidi apenas sentir (sentimentos e sensações são pessoais e inquestionáveis).

São as outras perguntas, as perguntas dos outros, que merecem respostas...
...ainda que fiquem incompreendidas.

E essa resposta é um... 'sim, eu tenho certeza'. 

Daquelas certezas que a gente é capaz de esperar a vida inteira e nunca conseguir alcançar simplesmente por não perceber que o gozo está na alma. 

Eu escolhi esperar pelo gozo da alma, por essa certeza que é só minha. É pessoal, inquestionável e verdadeira. E só eu sou capaz de entender, aceitar e acolher essa certeza... mais ninguém.


Portanto... sim, eu tenho certeza e fim!

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

| seta e alvo |

‎... hoje eu acordei com seta e alvo revirando as idéias.



Salivei e transpirei mil palavras pensando nessa música e, curiosamente, eu me descobri sendo uma dessas que fala de amor à vida e da força do acaso.

Essa mesma que anda em um labirinto, que chama pra festa, que corre todos os riscos e que se oferece por inteiro. E eu grito por liberdade, insisto em saber a verdade...

... lanço a alma no espaço, experimento o futuro, mesmo não vendo graça nenhuma de já saber o fim da estrada quando parto rumo ao nada.

Então... eu sou a seta ou o alvo?

Não tenho medo da morte, nem acredito ter azar ou sorte. Mas nessas tantas do amor pela vida eu aprendi que o acaso é o que há de mais divino... acaso, entre tantas possibilidades, justamente essa? E justamente assim? Justamente agora? Bom... isso seria azar ou sorte?

E é nesse labirinto de curvas, esquinas e portas abertas que eu corro todos esses riscos. Eu tenho total liberdade de caminhar e me lançar por esses espaços, às vezes estreitos demais, espinhosos, escuros... às vezes tão amplos, claros e diversos que me perco na própria imensidão contida nos meus passos. E assim eu não me satisfaço com metade das coisas... que sejam efêmeras, mas não sejam metade - e sim verdades.

Dessas verdades que podem até doer, mas são responsáveis por esses passos incertos e surpreendentes que dou nesse labirinto, nesse espaço em que eu decidi me lançar por inteiro, de corpo e alma.

Dessa alma minha que vai ao futuro, experimenta sonho, imagina, tem vontade de tudo...
... mas simplesmente não tem interesse nenhum em chegar ao fim da estrada antes de caminhar por todas essas curvas e esquinas.

Eu sou a seta e o alvo.

Mas o alvo, na certa,
não me espera...

...nem sabe de mim
e aquela estrada,

não tem fim.


segunda-feira, 22 de agosto de 2011

| desvestir |

...permita-me olhar-te, tocar-te. Sem tuas roupas, sem teus personagens. Que eu, em teus olhos e mãos, me sinto completamente nua. Despida de qualquer máscara eu te ofereço minhas faces e me tens variável, mutante... mas me tens verdadeira.



Eu? Sou várias... até mesmo para um.

A amante, a amiga. Sou a carícia e a maldade. Posso ser a menina de olhar inocente, a mulher que deseja. Eu posso ser tantas quantas couberem em mim.
Mas ainda assim sou única, sou uma. Nessa uma eu contenho todas as outras. Elas se revezam, se alternam, se conflitam e se completam... elas se revelam, uma na outra.

Quando merecido (...e isso dá-se quando respeito e sinto), não sou personagem, sou eu.

Nesse desencontro das minhas tantas incoerências saudáveis, essa que olha nos olhos, nesses raros momentos, é a mesma que revira os pensamentos resgatando detalhes. E ainda é a que desperta, na manhã seguinte, para mais um dia de rotinas.

Quem oscila na própria nudez incoerente, hora atrapada na vergonha e inocência de ser, hora descoberta, desnuda, livre e exposta até às carnes, não tem como temer a censura. Merecemos receber censura pela verdade exposta, por siplesmente ser? Ou crer, ou sentir, ou querer... 

Na minha nudez de personagem, de máscara, eu revelo todas as variáveis... e nela todas as que cabem em mim. Alguns conseguem realmente perceber que estou sem todas essas "vestes de personagem"...

...notar essas minhas transparências todas parte da sua disposição para perceber que eu, enfim, decido despir-me inteira. 



quinta-feira, 11 de agosto de 2011

| inconstante coerência |

Segundo o dicionário, louco significa: que perdeu a razão; doido; alienado; insensato; imprudente; doidivanas; brincalhão; folgazão; apaixonado; arrebatado; furioso; indivíduo que perdeu o uso da razão; demente.



E eu sou louca... apaixonada, insensata, imprudente, arrebatada, brincalhona, furiosa... sou dessas que tem asas, que voa, que causa tempestades. Sou dessas que vira semente silenciosa, calada, dura e introspectiva. E eu vou... de um extremo ao outro, na minha loucura diária.

Nunca pretendi ser normal, ser igual, ser uniforme ou coerente com qualquer coisa que não fosse eu mesma.

E chego ao pico dessa leveza absurda de saber que não preciso me encaixar em tribos. De saber que não preciso seguir, à risca, obrigações sociais, comportamentais ou religiosas que não sejam condizentes com minha essência.

Eu posso ser esse detalhe do padrão, eu posso estar no contexto e ser extremamente linear... e isso acontece quando eu sinto que sou assim, é de dentro pra fora.
Caso contrário, estou fora, sou diferente, sou a outra face estranha... sou totalmente incoerente - aos olhos dos outros.

Minha loucura diária não me dá o direito de atropelar toda e qualquer existência, mas me permite refletir, concluir, reavaliar, mudar de idéia e expressar - até mesmo que mudei de idéia.

E essa expressão se dá sem os limites das tradições porque, ainda que eu tenha os pés atados às minhas raízes familiares e culturais, minha mente tem asas e voa, sem nenhuma dessas amarras da obrigatoriedade comportamental.

E ainda assim sou coerente...
...pois só sou coerente a mim.





Careço lembrar de Rita ruiva, que me contava uma história inspiradora desde que eu era pequena...

"Dizem que sou louca por pensar assim. Se sou muito louca por eu ser feliz, mas louco é quem me diz e não é feliz! Eu juro que é melhor não ser um normal, se eu posso pensar que Deus, sou eu... Sim! Sou muito louca não vou me curar. Já não sou a única que encontrou a paz."

terça-feira, 26 de julho de 2011

| entre narciso e ophelia |

"...se teu rio calmo se vê no reflexo dos meus olhos de narciso,
em mim tu te mergulhas,
em ti eu me afogo."

E ao afogar é possível ser Narciso e experimentar a morte em gozo profundo ou Ophelia em sua desilusão afogada em dor.
Escolho o afogar diário. 
Seja em gozo ou dor, viver às margens de mergulhos superficiais é como só afundar até os joelhos nas águas da existência. O corpo inteiro pede pela experiência do toque com a água, não só os pés, não só as mãos, não só o rosto.
É ela quem envolve completamente, que chega a cada centímetro escondido, esquecido, disfarçado. E provoca as sensações, estimula as entranhas, renova, revigora... revela.
Ainda em gozo, Narciso se delicia com seu próprio envolvimento. Ainda em dor, Ophelia se liberta e se acalma na leveza do esquecimento.
Afogar-se é deixar-se ir. Aprofundar no íntimo, no que cada bolha de oxigênio restante pode oferecer. É a mais pura intensidade... a verdadeira descoberta do eu/ego.
É estar só, consigo, percebendo-se como indivíduo e único. É saber-se não só como reflexo, mas como gozo, como dor. É descobrir-se por completo ainda que faltem os pedaços.
Afogar-se em si mesmo e viver o gozo e a dor, aceitando que cada detalhe revelado pela água não é nada mais que sua verdade íntima. E não só seu reflexo, seu galho de salgueiro ainda no lugar.


Merecidamente, mais uma vez, Danae de Klimt. Afogando-se em gozo ou dor?

Semente em plena tempestade hoje.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

| de carne a pedra |

Sazonalmente, como todas aquelas estações nerúdicas e lispectorianas, pedras robustas tomam o lugar de artérias, ventrículos e átrios. O coração definitivamente resolve parar... como que cansado, como que exausto.
A culpa é dele mesmo?
Que resolve querer sentir além da própria capacidade diária e se sufoca no próprio gozo?
Ou ele decide querer e esperar por uma batida tão forte capaz de romper com qualquer resquício de matéria extremamente sólida que ainda o limite?
Das opções, não existe uma menos fatal e utópica. Ainda que desejada em excesso.  
Escolher, principalmente para quem vive de avaliar prós e contras, pode ser ainda pior que a própria dor da pedra parada, calada no peito.
E essa caminhada dúbia continua entre cada passo sem rumo. Entre o querer, o poder e o esperar.
Como se cada dia dependesse de uma verdadeira explosão de intensidade. Ainda que os passos dos dias lispectorianos calados e exaustos caminhem em implosões intensas e condensantes.
Eu: estado semente à flor da pele... em plena metamorfose e refletindo sobre um pequeno trecho de música que ouvi no fim de semana.


"... pra quem não sabe amar, fica esperando alguém que caiba no seu sonho."
Narciso e sua metamorfose da genialidade de Dalí. 
E nós, em nossa significância relativa... somos reflexos de seu mito/ego? Esperando a imagem mais perfeita no espelho para, nela, morrer afogado, ainda que em plena satisfação?

Sementes questionam... tempestades atropelam.

terça-feira, 19 de julho de 2011

| do íntimo |

É pesado carregar uma máscara que não se quer, que não se sustenta, que não se é. Das opções que temos levar os fatos com transparência ainda parece ser mais impraticável. Mas a pergunta que não me calou hoje foi... "existe um caminho do meio?" Eu posso ser transparente sem estar completamente despida de minhas roupas? Eu posso estampar no rosto o que sou sem precisar escrever um cartaz com todas as letras e carregar no peito?

Hoje sou só perguntas a respeito do equilíbrio entre o que se sente e o que se pode mostrar de todo esse sentimento. O sentir é algo que, velado, perde qualquer significância. Eu sinto, isso é um fato. Mas, se sinto isolada numa torre, eu sou uma ilha sem acesso, deserta, inútil. Cai no vazio, cai no esquecimento.

Refleti hoje sobre a máscara do não sentimento. Da não expressão de qualquer coisa que possa colocar nas mãos do outro uma gota de certeza a respeito do que sentimos. Por que isso? Pra que isso?
O prazer da conquista, do descobrimento e da entrega não se perde quando ambas as partes sabem de suas disposições para isso. Não se investe ou acredita em algo em vão... mas também não se entrega por inteiro e por completo uma vida nas mãos do outro.

É simples, porém, consideravelmente utópico.