"...se teu rio calmo se vê no reflexo dos meus olhos de narciso,
em mim tu te mergulhas,
em ti eu me afogo."
E ao afogar é possível ser Narciso e experimentar a morte em gozo profundo ou Ophelia em sua desilusão afogada em dor.
Escolho o afogar diário.
Seja em gozo ou dor, viver às margens de mergulhos superficiais é como só afundar até os joelhos nas águas da existência. O corpo inteiro pede pela experiência do toque com a água, não só os pés, não só as mãos, não só o rosto.
É ela quem envolve completamente, que chega a cada centímetro escondido, esquecido, disfarçado. E provoca as sensações, estimula as entranhas, renova, revigora... revela.
Ainda em gozo, Narciso se delicia com seu próprio envolvimento. Ainda em dor, Ophelia se liberta e se acalma na leveza do esquecimento.
Afogar-se é deixar-se ir. Aprofundar no íntimo, no que cada bolha de oxigênio restante pode oferecer. É a mais pura intensidade... a verdadeira descoberta do eu/ego.
É estar só, consigo, percebendo-se como indivíduo e único. É saber-se não só como reflexo, mas como gozo, como dor. É descobrir-se por completo ainda que faltem os pedaços.
Afogar-se em si mesmo e viver o gozo e a dor, aceitando que cada detalhe revelado pela água não é nada mais que sua verdade íntima. E não só seu reflexo, seu galho de salgueiro ainda no lugar.
Merecidamente, mais uma vez, Danae de Klimt. Afogando-se em gozo ou dor?
Semente em plena tempestade hoje.
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