domingo, 3 de abril de 2011

| somos rios |

"...já viu um riacho? A serenidade e a calma com que ele passa quase nos faz esquecer do poder e da força de seu fluxo."

Assunto profundo, abstração máxima. São poucas, raras e extraordinárias as vezes em que posso ser verdadeira sem a obrigação de ser clara, tão clara. Não é a questão de não querer, é a liberdade de abrir-se por inteiro da maneira mais poética e despretenciosa possível sem a obrigação da palavra concreta. Então... desenrolando e caracterizando, essas questões de curiosidade avançada são respondidas com palavras que só são entendidas por quem merece entendê-las.

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Quer algo mais poderoso que a própria água? Em sua jornada não há quem possa contra... ela é a mãe que gera e a própria morte. Mas eu, mesmo sendo toda de ar, ainda aprendi a me espelhar no exemplo dela. "Movimente-se como a água, com leveza e força..." são palavras antigas que aprendi nos tempos da yoga e que viraram referência para o caminhar diário.

Leve e forte - ela deveria ser exemplo coletivo. Ela constrói, organiza, direciona numa serenidade admirável. Um rio segue suave por um caminho há muito construído por ele mesmo, embrenhando-se pelas oportunidades, determinando seu traço com uma certeza que faz seu presente parecer ter sido desenhado com exatidão para seus anseios. Embrenhar-se na vida, fazer dela um fluxo oportuno é um segredo que a água nos conta... leve e forte, flexível e objetivo.

Mas sabendo-se como caminho e não como final. A significância do curso está ao seu redor, nas pedras, troncos e folhas que carregamos. Nas chuvas que alimentam. Nas vidas que passam pelo fluxo contínuo, que se alimentam dele e deixam nele um pouco de suas vidas.

Somos rios. Hora plácidos, suaves. Hora caudalosos, impedosos. Somos e podemos saber-nos como caminho e fazer dele um fluxo sereno, flexível, objetivo e poderoso. Levando na própria existência a opção de carregar consigo o que lhe serve ou deixar à sua margem o que já merece o desapego.