sexta-feira, 26 de novembro de 2010

| semente e tempestade |

Adoro Neruda. Cheguei a falar algumas vezes que a alma do meu homem ideal deveria ser como a dele, apaixonada, entregue e descobri em Clarice Lispector um grande aspecto meu, profunda, intensa, dolorosamente verdadeira. São antagônicos e, curiosamente, se completam em mim.

Neruda colore meu mundo romântico e ilusório de vermelho paixão enquanto Clarice me mostra toda a realidade da dor necessária e o vermelho se torna sangue.



Sempre fiz questão das dores, do amargo. Sofrer por amor foi sempre a minha mais apaixonada experiência, é mais intenso, é mais profundo e mais perturbador que a própria paixão. Ela dói, enraíza, mostra o quanto o chão pode ser duro quando se cai das nuvens. Eu amo as nuvens, mas elas são doces demais para uma vida inteira... nuvens interessantes se chocam, provocam raios, trovões, furacões. Eu preciso desses turbilhões. Das tempestades.

E transito nas minhas estações com todo o respeito por cada uma... saio do amor tradicional, suave e plácido das primaveras e encontro-me em busca do calor, do absurdo, da paixão intensa, do verão tempestuoso e suas chuvas torrenciais... são minhas estações nerúdicas.
Isso definha e eu seco, me esgoto em tons pasteis exautos... meu outono começa a pedir por solidão, por mim, por centro. No pico da solidão e do vazio eu percebo que eu sou eu, mas não sei ser sempre sozinha e ainda que eu goste dos meus tons pastéis de outono o inverno me mostra que pode ser dolorozamente frio. Então eu vivo minhas estações lispectorianas com toda a sua intensidade.

Chega a hora de aquietar e deixar a neve derreter, molhar a terra das novas flores. E elas chegam na sua hora... na nova primavera, no novo ciclo.

Incrivelmente eu me descubro entre dois personagens... hora estou fora, sou de Neruda, a tempestade. Hora estou dentro e sou Clarice, semente.

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